terça-feira, 12 de julho de 2016

Melancolia


A luz que vaza e se espalha.
Um vão na alma que corta.
Melancolia que chega sem avisar.
Escancara janelas e portas.

O alaranjado em degradê da tarde
que chega, isento de tempestade.
Será sentida por outros corações,
vista por outros olhos cheios de acuidade.

Da janela,
espio pássaros e folhas soltas ao vento.
Há demasiada cor
nessa vida cheia de sentimento.
.
Dalyla Peçanha



sexta-feira, 8 de julho de 2016

Sobre o terrível medo do ser


Nossa alma é inquieta. Busca o novo, o surpreendente. Busca arrancar suspiros e palavras fomentadoras. 
Puro ego. 
A nossa inconstância é motivada pela inconstância das pessoas alheias. Ficamos motivados, desmotivados, cheios de dubiedade. Somos e não somos, estamos e não estamos, vivemos e... não, não vivemos. O viver é constante, preciso, exato! E nossa existência é inalterável. 
Pra que tanta preocupação em viver para aquele que desconhece as suas lamúrias mais íntimas e por vezes banais? Diga-me o sentido do temor tão intenso que guarda em suas entranhas?
Seus passos são calculados, suas palavras categorizadas, sua visão limitada.
Uma lástima!
O senhor da padaria desconhece os seus medos. A criança que corre descalça pelas calçadas não imagina o que pode lhe fazer sorrir.  A moça da praça não entende o motivo da sua ultima lágrima perdida. 
Você é dono de tudo o que te move, te faz sorrir, suspirar, chorar, se lamentar.
Você escolhe o que fazer com as coisas benévolas e as desagradáveis. 
Você tem poder sobre suas próprias inconstâncias.
Você é.
Você escolhe.
Você tem.
Você. 
Unicamente.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Desabamento


As letras desabam no papel que escrevo.

Vejo através da janela, as luzes da cidade
que tentam devorar o brilho das estrelas do céu.
E minhas mãos trêmulas desenham rabiscos
que devoram os meus medos passados para o papel.

Sinto-me mais leve. 

Escorre melancolia dos meus versos.
O que registro é responsável por salvar-me.
E a palavra que não escrevo,
terminará por criar-me.

Dalyla Peçanha





Sossego





A doçura que existe no sossego
me faz contemplar as coisas mais sublimes
e prosaicas.

Existe um pequeno mundo em cada detalhe
que meus olhos fotografam.
Uma infinitude banhada de encantos.

As vezes a minha grandeza me assusta.
Mas só com a observância da imensidão que
me rodeia, é que me sinto tão pequena neste mundo.


Dalyla Peçanha



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Passado(r)


Como uma roupa envelhecida
e com cheiro de naftalina,
o passado é uma roupa que
não cabe mais.

Tentar entrar
irá te apertar,
coçar,
te fazer espirrar.

Não tente diminuir,
emagrecer,
pular,
para caber.

O passado é uma roupa
antiquada.
Do tipo que amarrota,
mesmo quando for passada.


Dalyla Peçanha


terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Correria


(Autor da imagem não identificado) 

A busca pela analgesia da carne e espírito
só causam o desconforto do vir-a-ser.

Sapatos apertados,
asfalto quente,
multidões e desassossego.

A espantosa realidade grita
nos ouvidos e ecoa por horas.

Oras, não vê o que pode te desacelerar?
O suave vento impalpável caminha pelos
teus poros e entranhas.

Por segundos, os fragmentos do teu ser
se esvairão feito poeira.
Vedes que tua alma está mais leve?

Os teus calçados abetesgados não podem
te impedir de apreciar o chão.
Liberta-te.


Dalyla Peçanha

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Receita de Ano Novo



Para você ganhar um belíssimo Ano Novo,
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo
já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido).

Para você ganhar um ano não apenas pintado de novo,
remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do
vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior).

Novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia, se ama,
se trabalha, você não precisa beber champanha ou
qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?)

Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitado, começando pelo
direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo.
Eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente,
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade