quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Personificação do amor

Dedico essa crônica à minha amiga Beatriz Gualandi.


Era uma noite comum. Minha respiração me fazia companhia, e as paredes lilás do meu quarto pareciam ouvir os meus pensamentos. Questionava-me com rigidez: quantos gritos será que cabem no meu silêncio?            
O relógio marcava 00:00. Nunca acreditei nisso de horas iguais, e por mais que acreditasse, nenhum pedido que eu fizesse resolveria todas as indagações que desordenavam minha cabeça. Imaginava que no mesmo instante, milhares de pessoas de todo o mundo, estariam construindo histórias incríveis e espalhando um pouquinho de amor.
Uma mulher de Vancouver, por exemplo, poderia estar saindo frustrada de um encontro, mas - graças ao destino - encontraria no caminho para casa, um rapaz que a fizesse sorrir. Um homem de Osaka poderia estar se sentindo inútil nos seus afazeres, mas um elogio alheio arrancaria um sorriso inesperado. Uma senhora de Veneza poderia estar se sentindo sozinha vendo gôndolas de várias cores passarem, mas inesperadamente, um ente querido apareceria e lhe faria companhia.
O amor é traduzido de muitas formas, e está em qualquer detalhe, por menor que seja.  Criamos uma personificação do amor que é justamente o que os filmes e livros de romance insistem em exibir.
Esquecemo-nos do amor diluído no café de manhãzinha, preparado com tanto zelo pela nossa mãe. Esquecemo-nos do amor em forma de “bom dia” recitado pelo dono da padaria. Esquecemo-nos do amor com gostinho de bolo de fubá preparado pela nossa avó. Esquecemo-nos do amor com a leveza de um abraço inesperado de um amigo. Esquecemo-nos também do amor que guardamos.    
As pessoas estão ignorando o amor que abrigam, da mesma forma que ignoram roupas e objetos antiquados.   
O amor não está distante.      
O amor não é posse. 
O amor não é egoísta.
O amor não é amor até que seja dado.


Dalyla Peçanha


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