quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Somos o cotidiano

Todo dia de manhã a rotina insiste em puxar os meus lençóis. Lava o meu rosto, as marcas que carrego, e me desperta para mais um dia. As ruas são como céus estrelados e cada pessoa carrega uma galáxia particular. Passos firmes e apressados cruzam as esquinas, e mentes conturbadas esbanjam feição de cansaço. Uma voz uníssona percorre as cidades, os bairros, e adentra nas residências. A mesma voz ecoa em meus ouvidos, e o meu olhar acompanha os ponteiros do relógio preso no pulso. As desventuras são imprevisíveis e amargas. Mas a resistência sobre elas tem um gosto insano de alívio. A rotina só não consegue deixar os meus dias iguais porque as nuvens têm formas diferentes. Todo dia quando o sol se acanha e a noite se revela, a rotina insiste em me levar de volta pra casa. Lava o meu rosto, as novas marcas estampadas, e me cobre com lençóis amarrotados. O cotidiano não está nas buzinas dos carros, nos anúncios de outdoors, nem mesmo nos anseios de nossa alma. O cotidiano está além dos adornos. O cotidiano está em nós.

Dalyla Peçanha

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