(In)certezas

"O talento desenvolve-se no amor que pomos no que fazemos.
Talvez até a essência da arte seja o amor pelo que se faz, o
amor pelo próprio trabalho."

Máximo Gorky

[Carta aos Jovens Escritores]

Mais uma tarde normal. Eu deveria, poderia, e até queria escrever algo, mas minha cabeça estava uma bagunça só. É desesperador querer expulsar algumas palavras tortas e não ver nada sair. É estarrecedor não conseguir completar a sua própria vontade.

De vez em quando, eu sinto que minhas palavras só são suficientes pra mim, e não é isso o que almejo. Quero vê-las voando por aí, atingindo pessoas.  

Minha irmã, apesar de ter apenas 8 anos, possui o hábito de expelir -quase sempre- palavras sábias e confortantes. Numa dessas minhas crises de bloqueio criativo e desespero, ela me contou que nunca devo desistir do que eu quero, porque tudo segue o tempo de Deus. Não precisei ouvir mais nada.

O barulho da chuva foi a trilha sonora do resgate das palavras que estavam presas. As gotas escorregavam pelo vidro da janela, e esfacelavam-se na madeira madente. Observando-as melhor, percebi que é isso o que contemplo diariamente. Pessoas com talentos extraordinários e que sequer usufruem destes, fazendo com que escorreguem pelo caminho da incerteza, e se espatifem no chão frio e úmido do esquecimento.
Ultimamente as pessoas estão cheias de citações prontas. "Não faça isso, pois não dá futuro", "Vi no jornal que isso não dá dinheiro hoje em dia", "Fulano está fazendo isso, porque você não tenta também?", "Acho que você deve encarar melhor a realidade".
Não. Você não deve.
Você é quem constrói o seu futuro. O jornal não pode limitar os seus sonhos. Você é diferente de fulano e ciclano. E quanto a realidade... ela está aqui, hoje. Pronta para ser vivida por você, e da melhor forma possível. Sem medo, sem desespero. Só com suas vontades. A vida é curta e intensa demais para tantas imprecisões.